segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Bicho ferido



Abri os olhos
Agora eu vejo
Com os morcegos
Na noite escura
Um grupo de hienas
Bebendo cerveja
Farejo encrenca
E cresço as unhas

Você pensa que não sou desse mundo?
Porém ando sobre ele...

Sei que não existem anjos
Eu não me engano mais
Bicho ruim é ser humano
Ama com o pé atrás

Você acha que sou covarde?
Mas os selvagens também se escondem...

Na sua casa não bebo água
Só provei do teu veneno
Eu enlouqueço
Eu não disfarço
Sempre soube a hora
Pra pular fora
De tantos barcos!

Não feche a porta
Não crie um monstro
Bicho ferido precisa espaço.




sábado, 24 de outubro de 2009

Instinto

Acredito no instinto,
Se depende do destino
Nada acontece.





domingo, 12 de abril de 2009

Sobre o Amor

Se eu não for compreendida
E todos me desprezarem,
Se os amigos me faltarem
E se me enganarem?
Se eu cometer uma gafe,
E não tiver como corrigir,
Se não entender a piada
Ou for o motivo da risada!
Se eu for ofendida
Com ironia ou palavrão,
Nada na ponta da língua
E sem resposta engolir,
Sofrer fingindo que não!
E se a vida for um rio?
Eu não sei nadar!
E se não conseguir dormir?
Ou não querer levantar!
Se perder o horário! o ónibus!
E aumentar a pressão!
Se esquecer o meu nome,
Num segundo perder a razão!
E se eu perder a fala,
Tiver pânico de ir na rua
E se morrer de vergonha
Me sentindo nua?
E se eu perder o emprego
Ou não suportar a rotina,
Se me roubarem o dinheiro
E se eu tiver dívidas?
Se eu cair, sangrar
E a ferida infeccionar,
Se perder as pernas,
Não ter mais como andar...
E se não souber cantar,
Ter dificuldade de respirar,
E não me sentir desse mundo
Ainda que seja míope
e não veja o futuro
Mas se eu tiver amor,
Terei tudo.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Eu perdi a vergonha

Eu perdi a vergonha.

Não franzas a sobrancelha!

Vai chegar o dia,

Mesmo que na velhice tardia,

Que hás de perder a vergonha!

Eu me antecipei,

Quer dizer,

Primeiro foi o orgulho,

Pus no armário lá dos fundos

E nunca mais achei.

Mas por hora eu afirmo,

Sem prejuízo do dito,

Tenho pressa, fome, sede

E para saciar-me ainda verde

Foi que perdi a vergonha.

Perdoem-me a indecência,

Mas esta dama errante

Já perdeu, de tempo, o bastante.

Pelos erros paguei e pagarei

Mandem-me as contas

Que estas sempre chegam

Mas agora nada me importa

Estou viva não morta

Abri o novo parágrafo

O vento me leva nos braços

O amor me sorri tarado

E tenho não é de hoje

Espírito on the road

Portanto, crianças:

Antes que a terra me coma

Eu perdi a vergonha.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Abismo

Eu podia ficar séria,

Mas sorri.

Eu podia ficar calada,

Mas lhe contei um segredo.

Eu podia ser ninguém,

Mas lhe beijei.

Eu podia ser especial,

Mas me enganei.


Eu podia ficar triste

E fiquei.

Eu podia chorar muitas noites,

Mas foi uma só.

Eu podia ser como antes,

Mas não sou a mesma.

Eu podia esquecer,

E escrevi.

sábado, 23 de agosto de 2008

Alma

Quando me olho no espelho,
Bem no fundo dos meus olhos,
Eu acredito em alma.


Nara Loupe

terça-feira, 5 de agosto de 2008

aos amargos


Um suicida
No beiral do edifício
Olha para baixo e cogita se jogar
Abriu os braços
Mas não teve coragem
Porque não teve desejo.

Uma criança
Que mal nasceu
Não viu a luz quente do sol
Mas sofreu sob a artificial
Entrou em coma
E faleceu.

Uma nuvem cinza
Pesada de vergonha
Que demora sobre nossas cabeças
Ameaçadora
Mas lentamente e concentrada
Passa e vai para longe
Cair em tempestade.

Um louco
De calças sujas de excretos
Berrando coisas incompreensíveis
Sua carne fede
Ele caminha rapidamente pela rua
Na certeza de que achará o castelo.

Um leão
Sendo engaiolado
Rugindo todo o seu instinto
Ainda arisco, movido pela fome
De coisas que sangram
Lançado num circo
Adoece e se deixa domar.

Um assassino
Que se arrepende
Entrega-se, é algemado.
Mas uma vez atrás das grades
Volta a se sentir bem
Prova de uma liberdade
Que não sentia enquanto fugitivo

Um enfermo
Respiração ofegante
Dor, náusea e tremores
Anorexia, hipertensão...
Salvo pelos anticorpos,
Anticulpas, antivergonhas.

(Nara Loupe)