sábado, 23 de agosto de 2008

Alma

Quando me olho no espelho,
Bem no fundo dos meus olhos,
Eu acredito em alma.


Nara Loupe

terça-feira, 5 de agosto de 2008

aos amargos


Um suicida
No beiral do edifício
Olha para baixo e cogita se jogar
Abriu os braços
Mas não teve coragem
Porque não teve desejo.

Uma criança
Que mal nasceu
Não viu a luz quente do sol
Mas sofreu sob a artificial
Entrou em coma
E faleceu.

Uma nuvem cinza
Pesada de vergonha
Que demora sobre nossas cabeças
Ameaçadora
Mas lentamente e concentrada
Passa e vai para longe
Cair em tempestade.

Um louco
De calças sujas de excretos
Berrando coisas incompreensíveis
Sua carne fede
Ele caminha rapidamente pela rua
Na certeza de que achará o castelo.

Um leão
Sendo engaiolado
Rugindo todo o seu instinto
Ainda arisco, movido pela fome
De coisas que sangram
Lançado num circo
Adoece e se deixa domar.

Um assassino
Que se arrepende
Entrega-se, é algemado.
Mas uma vez atrás das grades
Volta a se sentir bem
Prova de uma liberdade
Que não sentia enquanto fugitivo

Um enfermo
Respiração ofegante
Dor, náusea e tremores
Anorexia, hipertensão...
Salvo pelos anticorpos,
Anticulpas, antivergonhas.

(Nara Loupe)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Infértil




Mela minha boca rachada
De espuma salgada do mar
Branqueia a minha impureza
Limpando meu nome vulgar

Largada de tantas esperas
Esfrego no chão meu suor
Sozinha na minha nudez.

Sofro de amor nesse instante
Não sei por que ou por quem
Talvez seja apenas desejo
De estar sobre mais alguém

Só assim me lambe a praia
Por uma onda abrupta
A pele vagueia molhada
Num rubor de angústia

Largada de tantas esperas
Esfrego no chão meu suor
Sozinha na minha nudez