sábado, 10 de novembro de 2007

Pelas dores de cabeça





Sonhar é um tapa

Na cara da realidade.

Quem quiser que veja!

Ficar de olhos abertos

É um susto que não passa

E deixa suspenso de pavor,

Forçando a ver

O real insuportável

De todas as manhãs.

Loucura é uma sorte,

Um instante livre

Pelo universo apagado.

Devaneios pelo incerto

Porque não há caminhos,

Porque não há escolha,

Só sonhar,

Imaginar as coisas

Do jeito que se deseja.

Deus é uma aspirina

Para usar em dias ruins.

Mesmo que seja placebo,

Pílula de papel,

Importa o falso efeito,

Que faça sentir-se bem

Do jeito que lhe convém.

Mistura, faz um ritual

E bebe o sonho inteiro

Num gole inevitável.


Nara Loupe

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Amassados papéis de amanhã





Embora não tenha dito,

Tudo estará revelado

Na cama, amassados

Papéis de amanhã.

A boca quando cala

No velho batom escuro

Esconde palavras francas.

Um segundo de pensamento.

Um momento de ser humano.

Há pessoas geladas,

Deixam escapar a essência,

A outra face no espelho;

Levam sobre o pescoço

Relógio e não cabeça;

Duas pilhas grandes no peito...

Dançam como robôs,

Vivem da repetição.

Onde está o impulso?

A volúpia sem culpa,

O uso dos sentidos?

Mas nada sentem,

Só o desejo mudo,

Mal nutrido,

Tetraplégico.

Insatisfeito.

Nara Loupe