Um suicida
No beiral do edifício
Olha para baixo e cogita se jogar
Abriu os braços
Mas não teve coragem
Porque não teve desejo.
Uma criança
Que mal nasceu
Não viu a luz quente do sol
Mas sofreu sob a artificial
Entrou em coma
E faleceu.
Uma nuvem cinza
Pesada de vergonha
Que demora sobre nossas cabeças
Ameaçadora
Mas lentamente e concentrada
Passa e vai para longe
Cair em tempestade.
Um louco
De calças sujas de excretos
Berrando coisas incompreensíveis
Sua carne fede
Ele caminha rapidamente pela rua
Na certeza de que achará o castelo.
Um leão
Sendo engaiolado
Rugindo todo o seu instinto
Ainda arisco, movido pela fome
De coisas que sangram
Lançado num circo
Adoece e se deixa domar.
Um assassino
Que se arrepende
Entrega-se, é algemado.
Mas uma vez atrás das grades
Volta a se sentir bem
Prova de uma liberdade
Que não sentia enquanto fugitivo
Um enfermo
Respiração ofegante
Dor, náusea e tremores
Anorexia, hipertensão...
Salvo pelos anticorpos,
Anticulpas, antivergonhas.
(Nara Loupe)
2 comentários:
Sinto cheiro de Zaratustra aqui, será que estou enganado?
Wow!!!
Gostei, vc tem talento pra descrever esse conformismo incômodo e que afeta boa parte do ordinário.
abraços.
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