quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Lenta


Lenta
Como a lagarta se arrastando,
Lenta
Como a lágrima escorrendo,
Lenta
Como um dia sem sorte,
Lenta,
Assim caminho.

E tudo o que vejo
É subtraído,
É filtrado


Para encontrar uma gota de beleza,
O processo
É lento.


Nara Loupe

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O encontro das partes




O corpo, curral da alma
Protegida, domesticada,
Caminha parética e torta;
Esforça-se na tentativa
De alcançar o equilíbrio
No ziguezague dos princípios,
Tantos obstáculos proibindo,
A alma veste o espartilho.
Se o corpo é o templo
Dado ao teu espírito,
Que seja usado sem castigo.
A alma precisa dançar
Mesmo que seja no corpo
Tire a corda desse pescoço!
A carne não é fraca,
Só precisa de calor e gosta
De exibir-se sem pudor.
Não divida-se em partes,
Goze do teu domínio,
Deixai livre o instinto,
Este é puro do animal
Bem longe de assombração,
Das entranhas a imaginação.
Nas tuas idéias efervescentes
Vão jogar copos de areia
E te roubar a ceia,
O corpo grita, a alma clama,
O prazer é a doce lama
A que todos nos atiramos.

Nara Loupe

sábado, 10 de novembro de 2007

Pelas dores de cabeça





Sonhar é um tapa

Na cara da realidade.

Quem quiser que veja!

Ficar de olhos abertos

É um susto que não passa

E deixa suspenso de pavor,

Forçando a ver

O real insuportável

De todas as manhãs.

Loucura é uma sorte,

Um instante livre

Pelo universo apagado.

Devaneios pelo incerto

Porque não há caminhos,

Porque não há escolha,

Só sonhar,

Imaginar as coisas

Do jeito que se deseja.

Deus é uma aspirina

Para usar em dias ruins.

Mesmo que seja placebo,

Pílula de papel,

Importa o falso efeito,

Que faça sentir-se bem

Do jeito que lhe convém.

Mistura, faz um ritual

E bebe o sonho inteiro

Num gole inevitável.


Nara Loupe

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Amassados papéis de amanhã





Embora não tenha dito,

Tudo estará revelado

Na cama, amassados

Papéis de amanhã.

A boca quando cala

No velho batom escuro

Esconde palavras francas.

Um segundo de pensamento.

Um momento de ser humano.

Há pessoas geladas,

Deixam escapar a essência,

A outra face no espelho;

Levam sobre o pescoço

Relógio e não cabeça;

Duas pilhas grandes no peito...

Dançam como robôs,

Vivem da repetição.

Onde está o impulso?

A volúpia sem culpa,

O uso dos sentidos?

Mas nada sentem,

Só o desejo mudo,

Mal nutrido,

Tetraplégico.

Insatisfeito.

Nara Loupe